quarta-feira, 19 de abril de 2017

O QUE HÁ DE DIFERENTE ENTRE OS INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS?

Entender as diferenças entre Omeprazol, Esomeprazol, Lansoprazol, Pantoprazol e Rabeprazol não é simples. Imagino que o prescritor faça a escolha do medicamento com base em evidências científicas, ou em sua própria experiência quanto à eficácia da substância diante de um quadro clínico.

Quando recém-formada, no balcão da drogaria, fui questionada quanto à diferença entre eles, e a resposta não é facilmente encontrada até hoje. As diferenças são muito sutis. Estudos comparativos são realizados, mas o que não se encontra é um estudo envolvendo todas estas substâncias simultaneamente de modo a fazer uma comparação minuciosa em todos os quesitos.    

O objetivo desta postagem é reunir algumas particularidades referentes a cada substância (sem qualquer pretensão de levantar todas as diferenças), com base em pesquisas realizadas em bases de dados (Bulário eletrônico da Anvisa, Pubchem), artigos científicos e livros.
Vários são os medicamentos disponíveis no mercado para o tratamento de distúrbios gastrintestinais. Os mais comumente prescritos são os inibidores da Bomba de Prótons, que reduzem a acidez gástrica através do bloqueio da etapa final da produção de HCl (ácido clorídrico) independente de outros fatores estimuladores. 

Os Inibidores da Bomba de Prótons, após serem absorvidos na circulação sistêmica se difundem nas células da mucosa gástrica, acumulando-se nos canalículos secretores ácidos. O profármaco (medicamento) então é ativado pela formação de sulfanilamida tetracíclica. A forma ativada do medicamento, através de ligação covalente com grupos sulfidrila de cisteínas na Bomba de Prótons (H+/K+ATPase) inativa irreversivelmente a molécula da bomba.

A secreção ácida só retornará após a síntese de novas moléculas da bomba, realizando assim uma supressão prolongada apesar das meias-vidas plasmáticas muito curtas (0,5 - 2h).

Os medicamentos apresentam nomes bem parecidos: Omeprazol, Esomeprazol, Lansoprazol, Pantoprazol e Rabeprazol. A estrutura molecular dessas substâncias consiste de um anel α-piridilmetilsulfinil benzimidazol  com variação nos grupos piridina ou benzimidazol.

Todos esses Inibidores de Bomba de Prótons apresentam eficácia equivalente em doses comparáveis mas, quais as diferenças entre eles?
 

1) Omeprazol: é uma mistura racêmica de R e S Isômeros. Foi o primeiro inibidor da Bomba de prótons a ser desenvolvido.

*Biodisponibilidade: Após 0,5-3,5h da administração oral da primeira dose, 30 a 40% da droga apresentam-se biodisponíveis. A biodisponibilidade aumenta conforme outras doses são administradas. 
*Ligação a proteínas: ~95%
*Meia-vida: 1,0-1,5h
*Excreção: 72 a 80% Urina ; 18 a 23% nas Fezes.
*Interação medicamentosa: 
Carbamazepina; Varfarina; Diazepam; Fenitoína; Sais de ferro; Ampicilina; Cetoconazol; Depressores da medula óssea; Claritromicina; Atazanavir; Nelfinavir; Saquinavir. 
*Interação com alimento: o alimento diminui a absorção do omeprazol, portanto o medicamento deve ser tomado em jejum.

Omeprazol

 2) Esomeprazol: é o S-isômero do Omeprazol. O S-isômero é eliminado mais lentamente que o R-isômero. 

*Biodisponibilidade: em aproximadamente 1,5h a biodisponibilidade é de 90% após doses repetidas.
*Ligação a proteínas: ~97%
*Meia-vida: 1,0-1,5h
*Excreção: 80% Urina ; 20% Fezes
*Interação medicamentosa: Erva de São João (Hypericum perforatum), Rifampicina, Diazepam, Cetoconazol, Itraconazol, Erlotinibe, Digoxina, Fenitoína, Varfarina, Clopidogrel, Atazanavir, Nelfinavir, Voriconazol.
*Interação com alimento: o alimento, além de atrasar a absorção do medicamento, também diminui a absorção de esomeprazol.
Esomeprazol
Esomeprazol magnésico
3) Lansoprazol: derivado benzimidazólico de segunda geração, diferindo do omeprazol devido a presença do grupo trifluoroetoxi em sua estrutura base.  

*Biodisponibilidade: em aproximadamente 1,7h após a administração oral, a biodisponibilidade é de 80%.
*Ligação a proteínas: ~97%
*Meia-vida: 1,5h
*Excreção: 1/3 Urina ; 2/3 Fezes.
*Interação medicamentosa: Antipirina, Indometacina, Ibuprofeno, Fenitoína, Propranolol, Prednisona, Diazepam, Claritromicina, Teofilina, Sucralfato, Cetoconazol, Ampicilina, Sais de ferro, Digoxina, Varfarina.
*Interação com alimento: o alimento, além de atrasar a absorção do medicamento, também diminui a absorção de lansoprazol.
Lanzoprazol
4) Pantoprazol: presença do grupo difluorometoxi ligado ao anel benzimidazol e dimetoxi ligado ao anel piridil. 

*Biodisponibilidade: em aproximadamente 2,4h após administração oral, a biodisponibilidade é de 77%.
*Ligação a proteínas: ~98%
*Meia-vida: 1,0h
*Excreção: ~71% Urina ; ~18% Fezes
*Interação medicamentosa: Ampicilina, Sais de Ferro, Cetoconazol, Atazanavir, Nelfinavir, Metotrexato, Tacrolimo, Fluvloxamina, Varfarina, Femprocumona.
*Interação com alimento: o alimento atrasa a absorção do Pantoprazol, porém a absorção não é prejudicada.
*Estudos mostram a segurança do uso de Pantoprazol com Clopidogrel.

Pantoprazol
Pantoprazol sesquiidratado (forma fisicamente mais estável): 45,1mg de sal sódico sesqui hidratado equivale a 40mg de ácido anidro livre.

5) Rabeprazol: Sua estrutura apresenta um centro sulfúrico assimétrico.
Após 1h da administração oral surge efeito inibidor mediano. A inibição se prolonga por 24h. Após a primeira dose 88% da inibição máxima é alcançada.

*Biodisponibilidade: em aproximadamente 3,5h após administração oral, a biodisponibilidade é de 52%.
*Ligação a proteínas: ~96%
*Meia-vida: 1,0h
*Excreção: ~90% Urina ; ~10% Fezes
*Interação medicamentosa: Digoxina, Cetoconazol, Amoxicilina, Claritromicina, Ciclosporina, Metotrexato, Atazanavir.
*Interação com alimento: o alimento atrasa a absorção do Rabeprazol, porém a absorção não é prejudicada.
*Estudos mostram que o Rabeprazol não apresenta interação significante quando utilizado com: Varfarina, Fenitoína, Teofilina e Diazepam.

Rabeprazol

Para simplificar a comparação foram coletados somente dados referentes a indivíduos saudáveis. Portanto, para aquelas pessoas com problemas renais ou hepáticos os valores diferem. Esses e outros parâmetros (condição física do indivíduo quanto a capacidade de excreção da droga do organismo e capacidade de metabolização, utilização de outros medicamentos, quadro clínico) analisados pelo prescritor, irão influenciar a escolha da substância.

Fontes: 
https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/
http://portal.anvisa.gov.br/bulario-eletronico1
https://periodicos.ufsm.br/revistasaude/article/viewFile/2963/2655
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/7615/000549593.pdf?sequence=1
https://books.google.com.br/books?id=qsx4cIAwwtcC&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false




sexta-feira, 24 de março de 2017

CONGESTÃO NASAL E CONGESTÃO REBOTE POR USO DE DESCONGESTIONANTES NASAIS



Quem convive com a congestão nasal sabe o quanto a situação afeta a qualidade do sono, a vida cotidiana, o trabalho, a escola, ou seja, a qualidade de vida de modo geral. 

A congestão nasal pode ser causada por diversos fatores:
- Efeito colateral do uso de outros medicamentos (diuréticos, ansiolíticos, pílulas anticoncepcionais e pílulas de disfunção erétil, medicamentos beta-bloqueadores e outros medicamentos utilizados no tratamento da hipertensão, anti-inflamatórios analgésicos como aspirina e ibuprofeno, e o uso inadequado de descongestionantes nasais);
- Constante exposição a fumaças em geral;
- Hiperatividade da glândula tireoide;
- Expor-se a mudança brusca de temperatura;
- Estresse;
- Gestação;
- Rinites; 
- Pólipo nasal;
- Desvio de septo;
- Inchaço da glândula adenoide; 
- Quadros alérgicos e resfriados. 

Para descobrir a causa da sua Congestão Nasal é importante consultar um médico para investigar a possível causa da congestão através de exames específicos. Evite incluir na sua rotina o uso de um medicamento que pode ser não mais que um paliativo. 

Muitas pessoas recorrem ao uso de soluções descongestionantes nasais que apresentam em sua composição substâncias como fenilefrina, nafazolina, oximetazolina, metoxamina, tramazolina, fenoxazolina. Estas são substâncias capazes de promover vasoconstrição na mucosa nasal. 

No Brasil, os medicamentos comumente utilizados por adultos são: Neosoro, Sorine e Afrin dentre uma relação enorme de descongestionantes nasais tópicos.

A recomendação geral é que esses medicamentos não sejam utilizados por mais de 3 ou 5 dias (o que depende da substância) e que a dose e frequência de uso não sejam excedidas além da quantidade recomendada. 

Esses medicamentos podem provocar reações adversas como efeitos neurológicos centrais (cefaleia, convulsões e acidente vascular cerebral) e efeitos cardiovasculares (crise hipertensiva, taquicardia e palpitação). 

Também o que sempre está relacionado ao uso de descongestionantes nasais tópicos é o fenômeno de Congestão Rebote. Porém esse fenômeno ainda não é comprovado por pesquisas controladas embora seja constatado clinicamente. 

Efeito Rebote por uso de Descongestionantes Nasais Tópicos:

O termo "Congestão Rebote" foi utilizado por Feinberg e Friedlander em 1944 para descrever a congestão nasal experienciada após o uso de Nafazolina. A congestão rebote resulta do uso prolongado de descongestionantes ou do uso de uma dose superior à dose recomendada.  

Tecnicamente, como acontece a Congestão Rebote?

A rede vascular da mucosa nasal é dividida em arteríolas (são os vasos de resistência) e veias (os vasos de capacitância). A mucosa é cercada por fibras nervosas simpáticas adrenérgicas (apresentam receptores alfa e beta adrenérgicos). Os receptores alfa adrenérgicos são predominantes na mucosa nasal e ao serem ativados ocorre a vasoconstrição. 

A atividade vasomotora de veias é regulada por ambos receptores alfa-1 e alfa-2, enquanto a atividade das arteríolas é regulada por receptores alfa-2. 

Os descongestionantes nasais mimetizam o a ação da noradrenalina em receptores alfa-1 e alfa-2. Dessa maneira o medicamento estimula os receptores ou induz de forma indireta a liberação de noradrenalina das vesículas de armazenamento. 

De acordo com Mortuaire e colaboradores, duas hipóteses farmacobiológicas foram formuladas com base em pesquisas realizadas com indivíduos saudáveis para explicar a Congestão rebote:

1º) O efeito pode ser devido a isquemia da mucosa nasal. Essa isquemia predisporia ao desenvolvimento de edema intersticial. O descongestionante nasal estimula receptores alfa-2 induzindo intensa vasoconstrição de arteríolas da submucosa. 

2º) O número de receptores alfa-adrenérgicos da membrana seria diminuído por desregulação e a produção endógena de noradrenalina seria diminuída por feedback pré-sináptico negativo. Tais efeitos induziriam a relativa dilatação dos plexos venosos sinusoidais submucosos devido a perda de vasoconstrição venosa dinâmica. Receptores adrenérgicos poderiam também tornar-se refratários a descongestionantes nasais, fazendo com que o indivíduo acometido pela congestão nasal aumentasse a dose do medicamento em busca de melhor resposta. Este fenômeno seria associado com sensibilidade diminuída para catecolaminas, afetando especialmente receptores alfa-1. 

Embora não se tenha conseguido comprovar através de pesquisas a Congestão Rebote, vemos no dia-a-dia o quanto é comum tal manifestação em pessoas que utilizam Descongestionantes Nasais Tópicos. 

Quais medidas tomar ao desconfiar que sofre de Congestão Rebote por uso de descongestionantes nasais?

Após uso prolongado de descongestionantes nasais, na tentativa de abandonar o uso do medicamento, o que ocorre automaticamente é a obstrução nasal quase total, o que causa grande aflição no indivíduo trazendo-o de volta para o uso. Portanto recomenda-se:

- Retirar a aplicação do medicamento de apenas uma narina, continuando o uso na outra narina. Em 15 dias desaparecerá a Congestão Rebote e a narina que não recebeu o medicamento estará sem edema. Assim é possível agora retirar a aplicação do descongestionante também na outra narina.

- Utilizar solução salina tópica ou spray. Existem as soluções hipertônicas (Rinosoro sic 3%, Sorine H, e soro fisiológico (Fluimare, NasoClean, Maresis, Rinosoro sic 0,9%). Essas soluções ajudam a manter a mucosa umidificada.

- Fazer Inalação de vapor de água (através de banho quente ou utilizando um umidificador).

- Aumentar a ingestão de líquidos e sopas quentes, mas diminuir a ingestão de bebidas cafeinadas.

- Utilizar tiras dilatadoras nasais.

- Recorrer a medicamentos homeopáticos ou antroposóficos, que podem auxiliar nesse processo. Consulte um médico homeopata ou um farmacêutico homeopata para sanar suas dúvidas.




Sugestões de leitura:
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1879729612001378
https://patient.info/pdf/29161.pdf#
http://www.advancedentandallergy.com/webdocuments/nasal-spray-addiction.pdf



sexta-feira, 17 de março de 2017

O FARMACÊUTICO COMO PERSONAGEM DA LITERATURA

O surgimento da profissão Farmacêutica ocorreu em conjunto com o surgimento da profissão Médica, visto que por muito tempo a pessoa que avaliava a condição física de um indivíduo doente era a mesma pessoa que fabricava seu “remédio”.

Deixando os fatos históricos um pouco de lado, resolvi escrever o texto sobre farmacêuticos nos textos literários, pois me deparei com esses personagens enquanto lia esses livros e refleti sobre o quão interessante seria fazer uma comparação de como era a atuação de profissionais de um outro tempo com os profissionais de hoje, sob o ponto de vista de pessoas que não são da área, como os autores a seguir.


Jane Austen
Jane Austen (1775-1817)

Jane Austen, foi uma escritora inglesa. Conhecida por seus clássicos romances cobertos de ironia, suas obras são objeto de estudo no meio acadêmico até os dias atuais.
Em seus livros: Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility, 1811) e Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice, 1813) há farmacêuticos entre seus personagens, ainda que presentes de forma discreta.

No primeiro romance publicado de Jane Austen, Razão e Sensibilidade, a personagem Marianne Dashwood adoece devido a uma desilusão amorosa. O farmacêutico Sr. Harris é chamado para cuidar da jovem.

“Uma noite muito agitada e febril, não obstante, decepcionou a expectativa de ambas, e quando Marianne, depois de insistir em se levantar, se confessou incapaz de ficar de pé e voltou voluntariamente para a cama, Elinor ficou muito disposta a seguir o conselho da sra. Jennings de mandar chamar o farmacêutico dos Palmer.
Ele veio, examinou a paciente, e se bem que animasse a srta. Dashwood a esperar que em pouquíssimos dias sua irmã recuperasse a saúde, ao afirmar que a doença tinha uma tendência pútrida, e ao permitir que a palavra ‘infecção’ passasse por seus lábios, logo alarmou a sra. Palmer, por causa do bebê. A sra. Jennings, que desde o começo estava propensa a considerar a enfermidade de Marianne mais séria do que Elinor, ouviu muito séria o relatório do sr. Harris e confirmando os temores e a cautela de Charlotte, defendeu enfaticamente a necessidade de afastá-la sem mais demora, levando consigo a criança.”

Ainda atualmente, as pessoas recorrem primeiramente ao farmacêutico, porém nas farmácias e drogarias. Pelo trecho transcrito acima, era muito natural na época o farmacêutico ir à casa do doente, o que não é mais observado hoje em dia devido à burocraria em que se encontra a profissão.
A passagem acima, embora sem a fala do personagem Sr. Harris, mostra que a comunicação foi realizada de forma a alertar sobre a possibilidade de uma doença contagiosa, fazendo com que um bebê fosse afastado do convívio com a jovem doente. No trecho a seguir vemos mais um pouco da postura do farmacêutico:

“Marianne estava muito melhor sob todos os aspectos, e ele a declarou inteiramente fora de perigo. A sra. Jennings, satisfeita talvez com a justificação parcial de seus prognósticos dada pelo último alarme, permitiu-se confiar no julgamento do farmacêutico e admitiu, com autêntico prazer e, logo em seguida, com inequívoca alegria, a probabilidade de uma recuperação completa.”

Na passagem acima é possível observar a importância da comunicação entre o farmacêutico, o doente e seus familiares.

Já em Orgulho e Preconceito a personagem Jane Bennet adquire um resfriado e o farmacêutico é chamado para ajudar na recuperação da moça:

Terminado o desjejum, as irmãs juntaram-se a elas; e Elizabeth começou a gostar delas, quando viu quanto afeto e solicitude demonstraram por Jane. O farmacêutico chegou e, tendo examinado a paciente, disse, como era de se esperar, que ela havia pegado um violento resfriado, e que deveriam fazer de tudo para curá-la; aconselhou-a a voltar para a cama e lhe receitou alguns remédios. O conselho foi obedecido à risca, pois os sintomas se agravaram e a cabeça passou a doer muito.”

Além da visita à casa da doente, temos também outra diferença para os dias atuais, que é a livre prescrição. Mostrando a diferença entre a profissão farmacêutica da época e a profissão regulamentada que praticamos atualmente.


Gustave Flaubert

Gustave Flaubert (1821-1880)
Em 1857, um romance escrito pelo francês Gustave Flaubert causou um escândalo em Paris. Com a publicação de Madame Bovary, o autor foi levado aos tribunais por sua obra ser considerada uma ofensa à moral e à religião.

Gustave Flaubert é conhecido pela capacidade que possuía de dar realidade a suas obras através de personagens bem desenvolvidos psicologicamente, o que quase lhe custou a liberdade. Um dos personagens do romance Madame Bovary é o farmacêutico Homais, um modelo de como um farmacêutico não deve ser.


Homais é um dono de uma Botica, mas gosta de ser chamado de farmacêutico, um termo mais moderno na época. Homais possui um laboratório onde faz seus experimentos de química. Ele desempenha um papel negativo no romance devido a sua grande ambição e vaidade extrema.

“...Uma ambição surda o minava. Homais desejava ter uma condecoração. Títulos com que obtê-la não lhe faltavam...”

“Homais inclinou-se então para o poder. Prestou secretamente ao prefeito valiosos serviços durante as eleições. Vendeu-se enfim, prostituiu-se.”

O farmacêutico de Flaubert é uma prova de que a corrupção não é exclusividade dos tempos atuais e que a busca por reconhecimento não deve ultrapassar a ética profissional. Homais é um péssimo exemplo tanto para sua época quanto para a nossa.   


John Fowles

John Fowles (1926-2005)

Em 1963, o autor inglês John Fowles publicou o romance O Colecionador, um livro perturbador devido ao tema abordado. O personagem farmacêutico surge no desfecho do livro quando a personagem enclausurada adoece gravemente e necessita de cuidados médicos. Na tentativa de levar Miranda ao médico, Frederick procura por ajuda em farmácias:

“Resolvi então ir a uma farmácia e dizer que queria um remédio para resfriado muito forte. Tratava-se de uma farmácia onde eu ainda nunca fora e, portanto, foi-me possível inventar uma grande história. Disse ao farmacêutico que tinha um amigo que era uma pessoa muito estranha, que não acreditava em médicos, e que estava muito doente com uma gripe, talvez até pneumonia, e que era necessário dar-lhe um remédio mais forte, mas secretamente. Bem, o farmacêutico deu-me o mesmo medicamento que eu já comprara para mim, e eu disse-lhe que queria penicilina ou qualquer coisa parecida, mas ele advertiu-me de que isso só seria possível com receita médica. Disse-me que eu devia chamar imediatamente um médico e explicar-lhe o caso. Eu retorqui que pagaria o que quer que fosse, entretanto ele sacudiu a cabeça e ponderou que isso era ilegal. Quis saber se meu amigo vivia na cidade, e tive de sair antes de que me fizesse mais perguntas. Tentei duas outras farmácias, mas recebi as mesmas respostas e, com medo de que me interrogassem de novo, aceitei o medicamento que me deram, uma droga diferente da primeira.”

Esse personagem farmacêutico representa o perfil necessário para atuar no ambiente de trabalho recente: a dispensação de antibióticos somente com receita médica e a orientação de que o doente deveria ir a uma consulta médica.

A literatura é um meio pelo qual podemos conhecer os costumes de uma época em que não pertencemos e assim comparar com a que vivemos.

Existe um texto muito bacana sobre leitura escrito por Guiomar de Grammon. Você pode lê-lo aqui: Ler devia ser proibido

Se você se interessou por algum desses livros e gostaria de saber mais a respeito, você pode assistir às resenhas logo abaixo:

-Razão e Sensibilidade-


-Orgulho e Preconceito-


-Madame Bovary-


-O Colecionador-



sexta-feira, 3 de março de 2017

HEMORROIDAS: MEDIDAS DE AUXÍLIO



As doenças hemorroidárias surgem com o aumento da pressão hidrostática no que chamamos Plexo Venoso Hemorroidário. Vários podem ser os fatores desencadeantes desse aumento de pressão, porém os mais comuns são: excessivo esforço para defecar e gestação.

As hemorroidas podem ser classificadas quanto a sua localização em externas, internas e mistas. E quanto ao tamanho elas podem ser classificadas de primeiro a quarto grau.

Os sintomas podem ser: dor, irritação (ardor e prurido), sangramento (cor vermelho-vivo) e constipação.

Medidas que irão auxiliar na recuperação:

- Primeiro certifique-se de que não esteja fazendo uso de um medicamento com substância capaz de causar constipação intestinal;

- Quando hemorroidas prolapsadas, procure lavar a região com água morna e sabão neutro ou levemente ácido;

- Realizar de 1 a 4 banhos de assento por dia, em água morna com Hamamelis;

- Utilizar substância protetora cutânea, para formar barreira física. Um exemplo é a vaselina, que pode ser utilizada com tranquilidade também por gestantes. Passar uma leve camada e somente do lado externo;

- Não permanecer muito tempo numa mesma posição seja ela sentada ou em pé;

- Não utilizar laxantes de forma abusiva. O uso abusivo de laxantes pode desencadear hemorroidas, porém quando este não é o caso, pode ser necessário utilizá-lo em caso de constipação intestinal;

- Utilização de anestésico local;

- Inclua caminhadas leves em sua rotina diária. A prática de exercício físico melhora consideravelmente o funcionamento do seu corpo;

- Por último e não menos importante: aumentar a ingestão de alimentos ricos em fibras, associando ao aumento do consumo de água. Essa medida é fundamental em sua recuperação quando há constipação intestinal e prevenção contra recorrências futuras.

Existem alguns medicamentos anestésicos locais que estão acessíveis em drogarias, porém, não hesite em conversar sobre seu problema com um farmacêutico. Ele poderá indicar algum medicamento se necessário ou, se o problema for grave, ele poderá orientar sua ida ao médico para que a recuperação ocorra o mais breve possível.







terça-feira, 24 de novembro de 2015

A IMPORTÂNCIA DA DENSIDADE DE PÓS NA MANIPULAÇÃO DE CÁPSULAS

Para farmacêuticos atuantes no setor de farmácia magistral com manipulação de cápsulas é muito comum se deparar com uma fórmulação pesada corretamente seguindo sua ordem de manipulação, porém, no momento do encapsulamento a quantidade de pó não preenche todas as cápsulas ou a quantidade total de pó não entra nas cápsulas distribuídas no tabuleiro.

Por que isso acontece? Porque uma ou mais substâncias, estão alimentadas no sistema com um valor de densidade aparente incorreto.

Como corrigir esse erro?
É possível através do uso de voluminometro:

Fonte: http://www.splabor.com.br/equipamentos-laboratorio/voluminometro/voluminometro-medidor-densidade-em-pos-e-graos-1-prove.html

ou de um densímetro de simples manuseio e de valor acessível:

Fonte: http://www.powdermix.com.br/#!densmetro/c16cp

Nos sites dos fabricantes é possível entender como manuseá-los.

Uma breve explicação sobre o densímetro da Powdermix: tendo em vista que densidade é igual a massa (g) dividido pelo volume (mL). O orifício do equipamento possui a capacidade de 1mL, logo o que couber de massa de uma determinada substância em seu orifício, é sua densidade aparente. Isso é verificado pelo equipamento vazio, tarado na balança e depois pesado com o orifício preenchido.

Vamos agora entender duas situações em que a densidade da substância está diretamente envolvida:

Situação 1: Quando sobra pó no momento em que é distribuído no tabuleiro.

Essa situação ocorre quando uma das substâncias está alimentada com um valor de densidade acima do valor real. 

Exemplo
A ordem de manipulação vem com os seguintes dados:

Valeriana 200mg d=0,70 
30 cápsulas número 3

Se você fizer os cálculos, uma substância com esta característica deverá ser encapsulada em cápsulas de número 3. A ordem de manipulação está correta, porém, se o valor real da densidade é 0,55 ao invés de 0,70, a substância não caberá nas cápsulas número 3, mas sim em cápsulas número 2. Então irá sobrar medicamento no momento do encapsulamento fazendo com que seja necessário retirar tudo e refazer no tamanho correto de cápsula, que seria a número 2 no caso da substância de d=0,55.

Situação 2: Quando falta excipiente ou a substância pode ser encapsulada em um tamanho menor de cápsula.

Essa situação é o inverso da situação acima e ocorre quando uma das substâncias está cadastrada com um valor de densidade menor do seu valor real.

Exemplo
A ordem de manipulação traz os seguintes dados:

Valeriana 200mg d=0,55
30 cápsulas número 2

As informações da ordem de manipulação estão corretas. Porém, se o valor real da densidade é de 0,70 as cápsulas número 2 ficarão vazias, o que irá requerer maior quantidade de excipiente ou trocar para as cápsulas de número 3, o que é o mais correto.


Como evitar esse erro?
Esse erro é evitado quando se realiza a verificação da densidade dos pós na entrada da matéria-prima. É feito no setor de controle de qualidade antes de disponibilizar a substância para uso. Da mesma forma, algumas substâncias higroscópicas devem ser submetidas periodicamente à verificação da densidade, visto que a absorção da umidade do ar pode alterar esse valor, como é o caso do extrato seco de Valeriana. Por isso a importância de se manter os valores de umidade relativa do ar e a temperatura do laboratório dentro dos padrões exigidos pela legislação.
 
Qual a importância de alimentar corretamente o sistema com as densidades corretas?
Otimização do processo. Quando o sistema é alimentado corretamente é possível aumentar a produtividade de sua equipe, visto que não estará se perdendo tempo para "consertar" a fórmula, reajustando a quantidade de excipiente e desencapsulando e reencapsulando. É possível também rastrear a quantidade de excipiente, otimizando o seu estoque de matérias-primas.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O QUE É HOMEOPATIA?





A palavra Homeopatia é de origem grega e significa "doença semelhante". A homeopatia é um método de tratamento, uma prática médica fundamentada em três princípios: Lei dos semelhantes, Experimentação medicamentosa e utilização de Medicamentos homeopáticos em doses infinitesimais. Alguns autores ainda relatam um quarto princípio que seria o uso de medicamento único, que consiste na tese de que cada paciente possui um único medicamento, capaz de tratar todos os seus males. No entanto, outras linhas consideram isso apenas uma recomendação.

Foi desenvolvida pelo médico alemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann, em 1796, em uma época que muito se conhecia sobre o corpo humano mas não se dispunha de métodos de tratamento seguros e eficazes. A utilização de métodos como sangrias, vomitórios e purgativos era muito comum e debilitava ainda mais os enfermos submetidos a esses procedimentos.

Os medicamentos homeopáticos são obtidos a partir de matérias-primas diversas, sendo a maioria de origem vegetal. Porém, é muito comum o uso de matérias-primas de origem química, animal e outras preparações especiais.

Exemplos:
Arnica montana - origem vegetal - matéria-prima: arnica
Apis mellifica - origem animal - matéria-prima: abelhas
Aluminium metallicum - origem química - matéria-prima: alumínio metálico
Hepar sulphur - preparação especial - matéria-prima: sulfeto de cálcio impuro

Como se dá a escolha do medicamento homeopático?
Ao final da consulta, o homeopata deverá ter coletado todos os sinais e sintomas relatados pelo paciente e outros através da observação, a fim de identificar uma matéria-prima que seja capaz de produzir os mesmos sinais e os sintomas em uma pessoa saudável. Daí a aplicação da Lei dos Semelhantes.

Como assim?
No início falamos que um dos princípios da Homeopatia é a Experimentação medicamentosa. Logo, para uma matéria-prima se tornar um medicamento homeopático é necessário saber como essa matéria-prima se comporta no organismo de uma pessoa saudável.
Um exemplo: o que acontece quando somos picados por uma abelha? Temos uma manifestação dermatológica com rubor, edema, calor e dor, essa dor é latejante e típica de uma picada. Assim foi feito com todas as matérias-primas homeopáticas: foi observado o que elas provocam em indivíduos saudáveis e todos os dados foram documentados nas matérias médicas. Quando um paciente relata um quadro característico de uma picada de abelha, sem necessariamente ter sido picado por ela, o medicamento Apis mellifica será útil. Importante informar que o medicamento é diluído inúmeras vezes de acordo com a Farmacopeia Homeopática, para não piorar o quadro do paciente.

Quando o medicamento homeopático não funciona?
O medicamento homeopático pode não funcionar pelos seguintes motivos:
a) dinamização (diluição) não adequada ao quadro clínico, sendo necessário reajustar a diluição;
b) conservação inadequada do medicamento;
c) escolha incorreta do medicamento;
d) técnica de preparo inadequada.

O tratamento homeopático demora a surtir efeito?
O tempo de tratamento é rápido para distúrbios menores, como um resfriado, e pode demorar um pouco mais para distúrbios maiores, como nos problemas crônicos. Por que? Porque o surgimento de um resfriado se dá de um dia para o outro. Enquanto que normalmente a hipertensão arterial sistêmica se desenvolve após um longo período submetido a um estilo de vida inadequado (estresse, alimentação inadequada, sedentarismo, etc).

Então por que utilizar a homeopatia para o tratamento de distúrbios maiores?
Porque o tratamento homeopático poderá fazer com que seja cada vez menor a necessidade dos medicamentos alopáticos. Por exemplo: se uma pessoa portadora do Diabetes utiliza um hipoglicemiante duas ou três vezes ao dia, com a utilização concomitante da homeopatia a necessidade do hipoglicemiante será cada vez menor, porque a homeopatia irá estimular a homeostase. Obviamente, essa redução é feita pelo médico cuidador, após exames laboratoriais.

A Homeopatia é uma especialidade médica, farmacêutica, odontológica, veterinária e está sendo abraçada também por agrônomos empenhados na produção de produtos orgânicos. Procure profissionais qualificados para maior esclarecimento e experimente. A Homeopatia pode fazer muito por sua saúde e a de seus familiares.







Fonte: http://lamasson.com.br/biblioteca/biblioteca/fundamentos/fundaconceitos.htm ; Dicionário de medicamentos homeopáticos


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS E IATROGENIA




Quantos tipos de medicamentos você utiliza diariamente? Você já observou a sua volta, quantos medicamentos as pessoas vêm tomando todos os dias? São medicamentos para dormir, outros para se manter acordado, um para “proteger o estômago”, outro para a pressão alta, outro para a arritmia e assim por diante. Fora os remedinhos que toma por causa de uma febre atípica e aqueles para gripes e alergias.
Já parou para pensar em quantas substâncias você insere em seu corpo? Será que realmente precisa de todas elas? Já observou que talvez aquela tontura, enjoo, inchaço, mal estar ou tristeza tenha entrado em sua rotina após você ter passado a tomar algum medicamento? Mesmo após o uso daquele que o seu médico prescreveu?

Com a existência de inúmeras especialidades médicas é muito comum pessoas fazerem uso de dois ou mais medicamentos simultaneamente e tal conduta intensifica a probabilidade de interação entre essas substâncias. A Interação Medicamentosa é o processo em que um medicamento altera o efeito farmacológico de outro. Variam os locais e a maneira como essas interações ocorrem. Vale ressaltar que algumas interações são intencionais, quando o médico visa a utilizar uma substância para potencializar o efeito de outra. Porém, isso é feito sob uma análise de Risco x Benefício em que os benefícios devem, sempre, superar os riscos.

Outro problema importante diz respeito à associação de medicamentos contendo substâncias que possuem efeito tóxico sobre o mesmo órgão. Por exemplo: o uso simultâneo de dois medicamentos que são tóxicos para o rins. Ainda que o uso de cada um individualmente seja inofensivo, é provável que a combinação de ambos acarrete uma lesão renal. Denominamos Iatrogenia a alteração patológica provocada no indivíduo por tratamento médico errôneo ou inadvertido.

Portanto, sempre que fizer uso de medicamentos e constatar qualquer mal estar, leia os itens Reações Adversas e Interações Medicamentosas na bula. E se, ainda assim, restarem dúvidas, procure um profissional de saúde (Farmacêutico, Enfermeiro ou Médico) para esclarecer qualquer termo técnico que não tenha compreendido. O procedimento adotado para solucionar uma interação medicamentosa é a substituição de um dos medicamentos e/ou mudança no esquema terapêutico (dosagens e posologia) de forma a alcançar o equilíbrio clínico do paciente.

Vale lembrar de, sempre que for ao médico, informar todos os medicamentos de que faz uso, incluindo aqueles de uso esporádico (para eventuais emergências), como analgésicos, antitérmicos e antialérgicos. Se for o caso, leve todos os seus medicamentos em uma sacolinha. Não tenha receio em demonstrar sua preocupação, afinal, o maior interessado no sucesso do tratamento é você, o paciente, e o profissional da saúde é apenas um auxiliar no processo.